Certa noite acordei de sonhos intraquilos. Era como se existisse um mundo sobre minha cabeça, onde se podiam ouvir vozes das quais não se entendiam muita coisa de concreto. Passos apressados. Uns por motivo de dança, outros de casais procurando a cama mais próxima. Ouvia-se o desespero no coração das pessoas. Algumas riam em função de esconderem a dor que estavam sentindo, outras choravam por amores que se obstruíam naquele momento. Eu era uma delas. Levantei atordoada com a campainha que tocava, era apenas um amigo bêbado procurando abrigo. Em seguida desistiu, resolveu dormir na sua própria casa. Saiu caminhando desajeitado pelas ruas, o observei da varanda até o perder de vista. A penumbra da luzes laranjadas dos postes entrava pela janela da sala. Uma leve garoa batia do lado de fora do vidro da janela. A noite estava fria, o vento entrava forte e gelado pela varanda. Segui pelo corredor escuro em direção ao meu quarto. Passei em frente à primeira porta, estava fechada. Não me interessava saber o que havia dentro. Chegando à segunda porta, tive a esperança de ouvir uma respiração forte. Eu queria olhar e ver um corpo inerte, seminu, coberto apenas por um edredom mala banhado. Não havia nenhum sinal de Joshua. A cama estava intacta e os lençóis em perfeito estado, como se tivessem sido postos naquele momento. Seu violão estava sobre a cama. Recobrei os sentidos e voltei a ouvir os passos no andar de cima. Adentrei no quarto. Pude observar que a janela estava aberta, facilitando a propagação dos sons e luzes das ruas permitindo que eu pudesse ver a cômoda com os papéis, desenhos e pertences de Joshua. Havia alguns quadros na parede esquerda. Sentei-me sobre sua cama, enrolei o edredom como um grande manto. Eu chorei. Depois de algum tempo resolvi levantar. Liguei o computador. Coloquei uma música ao volume baixo. Entre soluços e lamentos, dormi. Quando os primeiros raios solares entraram pela janela pude ver seu rosto, claro, sem expressão. Nossos olhos não se fitaram. Eu só queria ir embora... Eu o fiz.